fevereiro 19, 2005

FILTRO

Meu Amor, não é nada:-Sons marinhos
Numa concha vazia, choro errante...
Ah, olhos que não choram! Pobresinhos...
Não há luz neste mundo que os levante!

Eu andarei por ti os maus caminhos
E as minhas mãos, abertas a diamantes,
Hão-de crucificar-se nos espinhos
Quando o meu peito for o teu mirante!

Para que corpos vis te não desejem,
Hei-de dar-te o meu corpo, e a boca minha
Pra que bocas impuras te não beijem!

Como quem roça um lago que sonhou,
Minhas cançadas asas de andorinha
Hão-de prender-te todo num só voo...

in Florbela Espanca
(Poesias completas)

|