agora sei...

Agora conheço o medo que sentes...
O desejo que nutres em teu olhar...
O prazer, o delirio, a felicidade...
Agora sei o quanto tu me amas...

querido...

Voa meu querido pela minha alma, pelo meu corpo...
Sente o amor que nos une...
No gosto de um beijo, tanto tempo desejado...
No calor de nossa pele, ao unir nosso suor...
No prazer de um momento, de desejo absoluto...

algures...

Algures entre o real, e o divino te encontras tu...
Entre o imaginário e o desejo...
Na pureza de um momento...
Na magia de um tempo...
Sem ti, tudo era mais estranho...
Fica se quiseres...
Parte se puderes...

acordei...

E não te tinha a meu lado...
não ouvi a tua voz...
Não senti o teu cheiro, mas lembrei-me dele...
Não te senti, mas sei que estas aí...
Algures, talvez em outra cama...
No entanto, sei também que permaneces ligado a mim...
Que nada , nem ninguem partilha a tua alma...
Que me pertences...
Tal como o vento, o amor passeia por lugares, pessoas, situações...
Mas volta sempre para quem lhe quer bem...

Assim o teu amor retorna a meus braços, ao meu corpo, à minha alma...

prazeres...

O cheiro dos lençois lavados ao deitar...
A respiração de quem se ama no meu pescoço...
Sentir teus braços em meu redor...
Acordar de bem com o mundo...
O cheiro da relva acabada de cortar, da terra molhada...
Um beijo sentido de meu filho...
O telefonema de um amigo ...
Um sorriso...
As saudades de quem me ama...
Mas acima de tudo...
O prazer de viver ...

cãntico negro

« Vem por aqui»- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem:«vem por aqui»!
Eu olho-os com olhos laços,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguem.
- Que eu vivo com o mesmo sem-avontade
Com que rasguei o ventre de minha Mãe.

Não, não vou por aí!So vou por onde
Me levam os meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Porque repetis:«vem por aqui»?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ír por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é facil!
Eu amo o longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes e os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras e tratados, e filosofos e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a como um facho a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cãnticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguem.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguem me dê piedosas intenções!
Ninguem me peça defenições!
Ninguem me diga:«vem por aqui»!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
È uma onda que se alevantou.
È um átomo que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
-Sei que não vou por aí.

José Regio (1898-1969) Poemas do Deus e do Diabo
Brasilia Editora

eu sou...

Eu sou aquela que buscas...

Sou a neblina que te acaricia...

A tormenta que te invade...

Suor e prazer de uma delicada tentação...

Capacidade de dádiva e entrega em tudo ousada...

Mãe , mulher, amante...

Doce aroma de uma sedução...

Eu sou aquela a quem te entregas na noite escura...

Alma errante de uma nação...

Eu sou...

elisa...

amar é...

Amar é ter a capacidade de assumir o outro enquanto individuo...
Saber que por mais voltas que a vida dê, o outro vai estar lá...
Ter a confiança que tudo háde correr bem, que a distãncia é apenas isso, distãncia...
Que o outro tem a coragem de conhecer pessoas, situações,experiências novas, porque no fim tira o aprendizado que tiver de tirar... e volta...
Amar é também acreditar em nós...
Conhecermo-nos o bastante para que o amor não seja minado por inseguranças, fobias ou mesmo preconceitos...
Amar é o acto mais puro de entrega, e quem ama liberta...

Tenham a coragem de amar,sejam livres...

um novo dia...

Fim de tarde levemente tocado por raios de sol, que tenuamente acariciam o mar...
Enebriada por um aroma adocicado, permaneço imovel em contemplação...
A cada manhã desperto, e fico feliz por mais uma oportunidade, de viver, de amar, de ser amada...
A celebração de um novo dia é como aceitar que erramos, mas também o assumir de uma nova possibilidade...

saber amar...

De cada vez que nos acercamos de outra, será que temos consciência que o sentimento que nutrimos poderá não ser compartilhado na mesma medida?
Devemos têr a sensibilidade, de compreender que nem todos estão preparados para corresponder ao nosso afecto, que o facto de estimar-mos outro ser, não significa que ele nos pertença, ou nos seja destinado naquele exacto momento...
Saber esperar é um dom de sublime importãncia, se amamos devemos aceitar o espaço e o tempo do outro, afinal o que é amar, senão o respeitar, e aceitar?

Amem muito, mas sejam felizes enquanto amam...

somente a liberdade...

Houvera um tempo em que tudo se resumia ao amor...
E tudo era facil de assimilar por um lema, um ideal; e por um amor fugaz, se movia o mundo e a vontade, mas esse tempo passou...
Hesiste em cada um de nós a capacidade de ser livre, de perder o medo, de ser feliz...
No entanto será que para isso se tenha que perder a liberdade?
Eu sei que não, e tu sabes?